A Internet, mais do que nunca, ditando regras na música
No mundo da música as coisas continuam a andar como acostumamos ver: mensagens que nos inspiram, que criam laços com nossas vidas e reforçam discussões dos mais variados níveis de complexidade. Desde os gritos de despertar de Kendrick Lamar aos gritos de socorro em forma de excessos praticados por XXXTentation, que acabou por antecipar a presença nesse plano, infelizmente. Mas de uns tempos pra cá, com o boom do strreaming nos últimos 5 anos, a mudança de comportamento dos artistas no palco e fora dele, a independência na gestão de suas carreiras, trouxe algo: a música, que antes criava demandas, tendências de moda, comportamento e posicionamento político e social, agora experimenta o caminho contrário: o comportamento e a forma que nos comunicamos atualmente alimenta as métricas para um maior alcance de visualizações, interação e novos adeptos.
Ok, um ponto levantado só agora mas, longe de ser algo recente. Exemplo de Beyoncé, dona do trono do pop atual. Tem pelo menos 5 anos que ela enche nossos sentidos com provocações das mais diversas, levantando três grandes discussões quentíssimas:
1. O levante feminino – em auto-preservação, a exigência de parar a violência psicológica sofrida pelas gerações passadas, e a voz ecoada a todos os cantos sobre a capacidade de se ser protagonista em todos os âmbitos da vida
Vários outros exemplos partiram daí. As questões socais e psicológicas dessas comunidades contadas de forma mais amena e esperançosa com Drake em God's Plan ou de forma mais visceral e séria como Donald Glover em This Is America acalorou as reflexões para esses pontos tão urgentes e, de certa forma forçou o mercado a desistir naquele processo de silenciamento em forma de hits vazios de mensagem, tão lembrados pelos veteranos da música na primeira década dos anos 2000.
Nos dias de hoje? A velocidade que acompanha a o rápido desvio de atenção, característica tão presente nos nossos dias e nos jovens forçou uma experiência de audio mais rápida; exemplo disso é o hit Gucci Gang, de Lil'Pump entrar para história por ser a faixa mais curta a entrar para Top 10 da Billboard: dois minutos e 10 segundo. O vídeo do hit está perto de seu primeiro bilhão de visualizações no Youtube após um ano de lançamento. Um álbum de quinze faixas com trinta e seis minutos de duração. Se há algo mais relacionado com a velocidade de rolamos a timeline nas redes sociais ou o encurtamento na conversas que todos vivemos, não sabemos dizer.
E falando em redes sociais, a identidade visual desses novos trabalhos passa, obrigatoriamente pelo filtro de linguagem aplicada no Instagram (com o perdão do trocadilho). A conexão dos fãs com a música passa a ser validada com um conteúdo em seus perfis condizente com o que vem sendo praticado, correndo risco de passar completamente despercebido se pular essa etapa:
Resultado: podemos até pensar na continuação da máxima "a arte imita a vida", mas já pararam pra pensar que em qualquer mercado a velocidade na resposta é primordial para se conversar com quem consome o que se produz? E junto disso, vivemos uma fase onde a verdade e compromisso com o que se oferta é percepção de valor em tudo que se entrega? A música, sem dúvida não vai fugir dessa máxima, considerando o fato do aumento constante dos catálogos das plataformas musicais. Estamos frente a um momento delicado e bonito de se ver. De verdade, com o palpite de ainda mais surpresas na experiência de se ouvir um novo artista e como ele chamará nossa atenção. Mas claro, continuaremos a ficar atentos a tudo isso. Até semana que vem!
Sobre os autores
Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.
Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.
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