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Frequência Modulada

Rebobine, por favor: romantismo estratégico na volta da fita cassete

Frequência Modulada

02/07/2019 18h28

Como alguns de vocês podem ter esbarrado nessa curiosidade esses dias, no dia 1 de julho vimos completos 40 anos do lançamento do primeiro walkman pela Sony, peça ícone dos anos 80 e acima de tudo, o start para nova lógica de se ouvir música, propriamente, não necessitando de um grande sistema de som ou horas dedicadas para se parar e colocar um disco de vinil (época essa que vai bem de encontro com vários fatores como, pessoas fazendo um trajeto casa-trabalho mais demorado, por exemplo), temos um ponto muito legal acontecendo aí: a volta a fita cassete. Já rolando há uns 3 anos um humilde retorno. As vendas subiram no ano passado, totalizando perto de 220.000 peças em 2018, de acordo com relatório da Nielsen.

Depois de um processo de descontinuidade da produção em 1994 com a chegada da tecnologia do compact disc nos mercados europeu e norte americano e a popularização no mercado brasileiro por volta de 1996, esse mini-revival das fitas cassete que inicialmente foi visto como uma tendência hypster, diferentona, deve de forma justa atribuir sua evolução na cultura pop, em dois momentos: Nas primeiras cenas do filme Guardiões da Galáxia, do Universo Cinematográfico Marvel em 2014 e seu consequente lançamento da trilha sonora nessa mídia, e a aquele saudosismo bom a que todos fomos expostos assistindo a primeira temporada de Stranger Things na Netflix.

Além de uma estratégia muito inteligente, ela permeia por alguns aspectos muito legais. Na mesma lógica do vinil que exercita o táctil, o analógico, os cassetes por terem "validade" na qualidade e reprodução – qualidade questionável, há de se dizer – dão idéia de ciclo, de vida e morte, assim como todos nós. Para o artista que resolva entrar na onda e lançar, oferecem uma opção de baixíssimo custo para conexão com a memória afetiva de sua base fãs, se aplicar em uma abordagem correta de lançamento.

Assim fizeram alguns artistas como Ariana Grande, Kanye West, P!nk, e Tássia Reis aqui no Brasil. Principalmente para quem está fora do mainstream a produção do cassete é foge dos custos altos da prensagem de vinil hoje em dia e, essa demanda que se gera ao publico, que passa a ir atrás de um toca fitas também causa comprometimento.

No meio disso tudo não esqueçamos: Cassetes tem uma qualidade sonora inferior a outras mídias. Na época entraram como substitutos do vinil que ainda hoje é tida como a forma mais limpa para percepção de todas as frequências sonoras, então a comparação é bem injusta. Eles quebram, são difíceis de pesquisar. Mas funcionam muito bem, quando viajamos e precisamos trazer alguma lembrança a um amigo – independente do gênero musical que ele curta.

E hoje tem até Cassete Store Day, da mesma forma do vinil, um evento de âmbito mundial para fomento da cultura de colecionar essas raridades, que em casos esbarram em milhares de reais (!!!) e desde de 2017 chegou ao Brasil. Talvez esse seja um bom começo de um hobby novo, pense em dar uma olhada naquelas caixas guardadas na casa de seus pais. Pode ser divertido. Fechou?

Sobre os autores

Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.

Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.

Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.

Sobre o blog

Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.

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