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Frequência Modulada

Statik Selektah: 100 Proof The Hangover

Frequência Modulada

30/07/2019 16h26

Patrick Baril (esq) ao lado do rapper Action Bronson

A maioria dos leitores já deve ter ouvido falar no DJ e produtos Statik Selektah. De nome Patrick Baril, iniciou sua carreira de Dj e radialista em Boston e  logo surgiu a princípio como um protegido do DJ Premier, saiu da sombra do seu mentor e tornou-se um dos produtores mais prolíficos da cena norte-americana. Statik trabalhou com um número enorme de MCs, tanto no underground quanto do mainstream, e nesse terceiro disco Statik segue convidando um time de peso para rimar sobre suas batidas igualmente pesadas. Nas duas oportunidades, foi mais uma coletânea de rappers sobre os beats de Statik do que propriamente um disco. Porém, na sua terceira obra, 100 Proof The Hangover, parece que o beatmaker nova-iorquino acertou a mão, e comprovou de vez sua evolução.

Finalmente, a sensação é de que estamos ouvindo algo direcionado, pensando, e não apenas faixas aleatórias. Statik emprega um clima sombrio que permeia todo o disco, apostando em batidas fortes e a meio tempo, com uma ou outra mudança de direção ao longo do álbum. Para esta missão de retratar as ruas de Nova Iorque, nada melhor do que um apanhado dos mais contundentes representantes do local, desde veteranos, como a dupla Smif-N-Wessun, Kool G Rap, Lil'Fame (metade do M.O.P.) e Sean Price, até a nova escola da época – Saigon, Skyzoo e Termanology. Acrescente isto a veteranos e promessas de outros lados dos EUA – Bun B, Wale, Evidence e Fashawn, por exemplo – e você terá um elenco de primeira linha do rap estadunidense, e uma oportunidade de ouro para Statik permitir-se mover seu som para além das fronteiras nova-iorquinas.

De fato, todos os MCs convidados têm grande perfomance. Skyzoo simplesmente domina "Get Out" com um verso tão espetacular quanto a própria batida; Lil'Fame também é responsável por um dos melhores momentos do álbum em "Critically Acclaimed", com rimas espirituosas como: "Se eu te perguntar seu Top 10 de rappers, mortos ou vivos / e você não me mencionar, eu vou escurecer seus olhos" ou "Os caras não vão dar os meus créditos / então aqui vai um monte de palavrões para vocês editarem: vão chupar um pau, suas vadias de merda / vocês estão mexendo com os guerreiros de Brownsville". Mais hardcore do que isso, impossível. Entretanto, é Termanology quem rouba a cena; o jovem MC é o que mais aparece ao longo do disco e mostra uma forma impecável – particularmente em "Come Around", num show de lirismo e técnica.

Consistência também é a chave para descrever o trabalho do anfitrião Statik Selektah. Embora ele ainda encontre tempo para pancadões ignorantes como a supracitada "Critically Acclaimed", com um loop viciante, ou "Do It 2 Death", "100 Proof The Hangover" é claramente um disco mais sutil do que poderíamos esperar do histórico do produtor. Faixas como "So Close, So Far" e "Come Around" mostram um pouco desta tendência. A primeira tem até refrão cantado, e conta com vocais acelerados e um saxofone aqui e ali para dar um tempero a mais, enquanto a segunda recorre também a samples vocais e saxofones, mas de uma forma muito mais presente no mix. "The Thrill Is Gone" é outro destaque, com seu clima jazz-rap e colagens de Biggie.

Depois de alguns anos ralando para valer, seja com mixtapes ou produzindo para diversos rappers, Statik finalmente parece alcançar sua maturidade artística. 100 Proof The Hangover é exemplo disto, com um som mais refinado, um estilo melhor definido e algumas das melhores faixas já lançadas em 2010. Sua forma recente de contribuições já mostrava que estaríamos diante de um ótimo álbum, e isto se confirmou. A seguir neste ritmo, Statik vai rapidamente entrar naquela lista de produtores que nunca nos desapontam.

Sobre os autores

Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.

Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.

Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.

Sobre o blog

Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.

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