Madlib sobrevoando a música brasileira
Essa semana, em nosso podcast, falamos sobre um dos grandes gênios da produção de rap que invadiram nossos ouvidos com seus inúmeros codinomes: Madlib. E, além dos projetos mais famosos como Quasimoto e Lootpack, vale lembrar dos quase 10 anos em que Madlib dividiu conosco sua imersão nas pérolas da música brasileira não necessariamente famosas mas, artisticamente valiosíssimas: estamos falando de Medicine Show #2 – Flight to Brazil, uma mixape compilando artistas brasileiros da década de 60, 70 e 80, que inclusive nos deu um exemplo a valorizar ainda mais o que foi produzido aqui (ou fora daqui, mas em nome da nossa identidade).
Otis Jackson Jr., também conhecido como Madlib, ou Quasimoto, ou o produtor do misterioso Yesterday's New Quintet (hoje Yesterday Universe), não é nada senão prolífico. No final de 2009, ele anunciou sua idéia sobre o Medicine Show para 2010. Ele começou o ano com remixes de Guilty Simpson, e sua segunda entrada na série é Flight to Brazil. O subtítulo diz tudo: "Brazilian Funk, Psych, Jazz, Mix by Madlib".
O trabalho é dividido em 9 faixas, durante 74 minutos, com cada faixa com um tempo de 5 a 12 minutos. "Estou acostumado a misturar álbuns que destacam mais ou menos uma dúzia de músicas ou misturam algumas dúzias de músicas para criar um ritmo constante e coerente", diz. E esse não é o estilo de Madlib. Em vez disso, ele toca como um dos discos do Madlib, Beatkonducta, apenas sem as batidas.
Ele transmite de 30 a 40 músicas diferentes, como um delírio de febre. Um trecho de um light-jazz seguido de um hard funk, que passa por tocar bateria, seguido de alguns vocais pop e arredondado por um violão. E está tudo ligado a colagens da voz de uma aeromoça anunciando a trajetória de uma viagem que sobrevoa o Brasil.
Não há nenhuma pista no pack sobre o que são as músicas ou quem são os músicos. Há algumas fotos desbotadas e um poema em português, nada além. A Stones Throw (gravadora dentro de toda sua obra) pode tirar uma lição dos Rhymesayers (gravadora contemporânea da Stone Throw, em uma época em que ser independente de gravadoras maiores era bastante corajoso) sobre como fazer um pack de CDs que valha a pena se gastar. A pequena embalagem não garantia o preço, e era melhor fazer o download por US$10 do que gastar US$14 na cópia impressa ou vinil. E vamos combinar: final da década passada, como convencer uma base de fãs entre 18 e 30 e poucos anos comprar bossa meio jazzy, com vocais em português – por mais romântico que isso pareça?
Se a música brasileira obscura te intriga, vale super a pena. Pense nisso como uma visita guiada à coleção de vinil de Madlib. Os registros desse mix devem ter atrasado algumas contas, e você pode acessá-lo pelo mero preço de um download. Se você é fã da série BeatKonducta do Madlib (porque achar todos os detentores dos fonogramas, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas é tarefa árdua até para nós brasileiros), tá aí um bom vislumbre de uma versão não adulterada da nossa música. E justamente aí mora o contraponto: sabemos o quanto a música brasileira foi foco de beatmakers do mundo todo e de certo modo, existe uma pasteurização, um modelo mental em atribuir a música brasileira desse recorte da história apenas a "Mais que nada" ou "Garota de Ipanema", quando nem nós a conhecíamos tão profundamente, 10 anos atrás.
Ele descobriu muitas pedras preciosas e mantém uma vibração suave e descontrolada por todo o disco, como "Tamanco no Samba", d' O Trio 3D.
Alguns fãs de hip-hop talvez possam achar chato (?), mas qualquer pessoa interessada em belas pérolas musicais na sua coleção, deve dar uma olhada no "Medicine Show # 2".
E não esqueça de dar o play no podcast, que ficou muito massa!
Sobre os autores
Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.
Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.
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