Vida, maturidade e conquistas: A Prosperidade de Tássia Reis
Quem esperou na paciência, agora enfim pode ouvir. Na semana passada, recebemos nas plataformas digitais Próspera, o terceiro álbum da cantora Tássia Reis em um momento em que estamos felizmente recebendo maravilhosos trabalhos de artistas negros no Brasil e o principal: esses mesmos artistas, preocupados em devolver sua leitura do melhor que vem sendo feito em nome da tal urban music no mundo, com uma cara e textura que fala por nós aqui no Brasil.
Mas pra quem esbarrou na moça através desse post vale lembrar: estamos falando de uma jovem nascida e criada em Jacareí, cidade bem próxima da capital paulista e viu inicialmente na dança pessoas negras como ela. Logo, juntou suas inspirações da música que tocava no quintal de seus pais, poesia e moda e começa a encontrar sua identidade. E, como todo jovem absorvido pela cultura hip hop, as várias dúvidas entre começar o processo de reconhecimento e se deparar com uma sociedade que não lida bem com padrões. E desde os primeiros passos em sua jornada, mesmo apresentando versatilidade em sua música, cantando ou rimando, se deparou com esse paradoxo – que na verdade só a empurrou mais além.
Após dois álbuns, Tássia Reis e Outra Esfera, veio uma mudança para São Paulo capital, aparições publicitárias e o lançamento de uma marca de roupas, a XIU. Tássia entendeu aí qual a função de sua obra, além da artística. É também sobre dar luz e voz a várias mulheres que da mesma forma precisam ser ouvidas e respeitadas em todos os segmentos, mercados, ambientes e sociedades a qual façam parte, de forma facultativa ou não, por meio de conversa ou levante. Uma revolução crespa, como ela mesmo fala. E nesse terceiro recorte, a maturidade enquanto pessoa se mistura com a artística trazendo essa prosperidade, em aspectos bem próximos e atuais de seu público, especialmente o feminino.
Sobre carreira e grana:
Claro que hoje a na arte pode prover sustento e lucro, muito mais do que épocas passadas. E muito mais do que épocas passadas, o trabalho canalizado, em silêncio e com passos bem estudados é peça fundamental. Algumas pessoas não entendem essa parte, atribuindo status e fama à atividade nas redes e não enxergam o trabalho. Em "Dollar, Euro" ela fala sobre o que os aplausos estratégicos das pessoas que não enxergam que enquanto se sorri no palco e nas fotos, existe um exercício de planejar e agir. E em "Shonda", remix que conta com versos de Froyd e Preta Ary, fala sobre essa sucção de energia, das pessoas preocupadas demais em julgar nossos atos e um convite para que cada vez mais as metas tenham que ser atingidas a todo custo – da mesma forma que assistimos a escritora e roteirista Shonda Rhimes fez (e muito bem) na condução das séries Grey's Anatomy e How to Get Away with Murder?, quando os críticos atribuem o sucesso das obras de Shonda apenas por ela ser uma "mulher forte", quando na verdade as mulheres, principalmente as negras, precisam apenas de oportunidade para divulgar qualquer atividade que exerçam – e o valor e densidade com certeza estará lá.
Sobre relacionamentos:
E, em mais um conceito enraizado na cabeça de todos nós, é que as ditas "mulheres fortes" dentro de sua indiscutível independência, não precisem estar cercadas de apoio e suporte. Em "Amora", tá bem explícito o que a totalidade das pessoas talvez não queira ou precise, mas aprecia: alguém que queira estar ao seu lado e somar forças para que tudo melhore. Um dos maiores desafios dos nossos dias, a doação. Em dueto com o igualmente talentoso Melvin Santana, a frase qualquer fruta, qualquer amora (quanto mais preta, mais doce o suco – certo Tupac? Certo Kendrick?), depende de um galho para florescer dá o tom. E em "Eu + Você", em parceira com Fabriccio, uma narrativa de cumplicidade, dividir fardo, encontrar um lugarzinho em alguém para uma recarga mútua de energia. Todo mundo quer e gosta, vamos combinar.
Sobre a tal vida adulta:
Em meio a todos os movimentos que fazemos, em nos tentar em cenários desconhecidos, novas atividades, novas casas e novas cidades, bom mesmo é acharmos a dose exata do medo. É não falamos aqui da parte que nos trava durante nossas ações, mas sim da parte que nos traz a autoanálise, ao convite para novos comportamentos, prestar atenção aos excessos – como olha pra si e se questiona, em "Try". Como é importante entender cada aspecto de nossas existências e não nos sabotar em pensamentos e atos que nos atrapalham – a frase "O equilíbrio é uma busca, se alimente do que não te ofusca"? Perfeita.
Enxergar esses pontos na audição do álbum é como visitar lugares que devem ser visitados, vasculhados e organizados por nós mesmos; cada um sabe o seu e descobrirá como fazê-lo durante o processo. Mas como falamos, não precisa ser sem apoio, sem dicas. E que bom que também vem junto de uma musicalidade linda, com beats e grooves que ficam agradáveis por horas no fone de ouvido, durante nossos trajetos pela cidade ou trabalhando. Quem já está há dias ouvindo, é convidado a enxergar uma Tássia Reis que, sempre esteve bem, confiante e atenta a se manter ascendente e segura de seus passos. A prosperidade pra quem ouve. Lindo trampo. Pode apertar o play na fé que é sucesso.
Sobre os autores
Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.
Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.
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