O que aprendemos com Aretha Franklin
Estávamos refletindo esses últimos dias em todo o desenrolar de fatos assim que um ícone das artes parte desse plano. Especialmente na música, para os próximos meses provável que recebamos algumas canções inéditas e alguns shows em tributo devem acontece na América – aquele protocolo padrão. E mais uma vez, falhamos vergonhosamente com as nossas referências musicais. Tributos pós-morte são uma forma de refrescar nossa memória, lembrar quais os meios em que um caminho foi traçado, e quais as bases para que a música negra permanecesse no topo da maioria dos mercados do planeta.
Óbvio que não se pode desviar do peso em entregar 93 álbuns, levar 18 Grammys pra casa e toda consistência de uma obra, mas tem muito mais coisas além de se ser referência no "simples ato" de cantar.
Aretha Franklin era uma mulher definitivamente complexa. O clima violento e rico artisticamente de Detroit a forjou, e algumas das passagens em sua vida deram tom às suas canções, extremamente conectadas com a vida cotidiana das mulheres, e isso perdurou durante os seus sessenta anos de carreira. Antes de completar 20 anos, já carregava uma precoce ausência da mãe, uma relação delicada com o pai e e já trazia dois filhos consigo. Resultado: firmou pé e logo de cara já exigiu respeito.
Fora de levantar qualquer polêmica que dá margem a julgamentos aqui, Aretha Franklin e seus relacionamentos amorosos em altos e baixos (iguais aos seus, aos nossos) também nos conectaram a sua obra. E os bons momentos viraram música também, claro.
Aretha Franklin tinha autonomia e atitude dentro e fora dos palcos. Fez o que quis, nadou profundo. Ficou de frente às consequências dos excessos. Rock Star demais, tem seu lugar mais que justo no Hall da Fama, no estado americano de Ohio.
E falando em nadar profundo, as indecisões e os passos errados a levaram a trocar de gravadoras várias vezes (praticamente todas as grandes do mercado americano) e a acompanhar o que os novatos estavam fazendo. Vários produtores, de Curtis Mayfeld nos anos 70, Luther Vandross nos anos 80 e Jermaine Dupri e Babyface nos anos 90 colaboraram com essas novas roupagens em busca da audiência. Esse deslocamento pede empenho, humildade e energia do artista, que viu absolutamente todas as outras soul divas nascerem.
O que nos leva ao terceiro tópico – Aretha Franklin é pioneira. Uma pessoa que foi e voltou pra onde e de onde quis; que viveu, cantou e amou com essa intensidade já provocava com a atitude girl power antes disso ter um nome. Porque em Whitney (fã entregue e declarada), Madonna, Beyoncé e Rihanna por exemplo, é muito tranquilo de enxergar o porquê caminhos e ambientes onde essas mulheres passaram, se renderam às suas presenças e talentos. Chaka Khan, Diana Ross, Alicia Keys, Donna Summer dentre várias outras sem dúvida agradecem por chegarem a obra de Aretha para construírem suas identidades pessoais e profissionais.
A música de fato transforma e isso já sabemos. Mas termos como cenário um mundo nos anos 50 que, não era nada seguro para as mulheres, menos ainda para os negros e quase nada seguro para as mulheres negras, e ver quais os caminhos que Aretha Franklin fez e abriu, afaga todos os seus fãs, e leva a todos a entender conceitos de igualdade, criar oportunidades e garra no que se faz – pra hoje e pros próximos 60 anos. Obrigado, tia Aretha <3!
Sobre os autores
Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.
Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.
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