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IGOR: O novo álbum do novo Tyler, the Creator

Frequência Modulada

21/05/2019 19h26

E até que enfim na semana passada tivemos o mais novo álbum do o menino monstro Tyler Gregory Okonma, conhecido como Tyler, the Creator intitulado IGOR – em um formato onde saiu completamente de suas letras ácido-sarcásticas que divertiam adolescentes em seu começo com o extinto coletivo Odd Future (no qual Frank Ocean e Syd do The Internet faziam parte).
Desde seus trabalhos anteriores, Cherry Bomb em 2015 e o maravilhoso Flower Boy de 2017 que estamos olhando para um outro artista – focado nos processos dos álbuns, ganhando a atenção dos porta-vozes de tudo o que foi feito em música negra e por que não dizer, música e cultura urbana na primeira década dos anos 2000, Pharrell Williams e Kanye West.
Em IGOR realmente foi pensado uma desconstrução de menino rebelde de LA para um artista focado em externizar sensações, e consequentemente conectar pessoas com isso. Levando inclusive a Tyler indicar ao seu público, ansioso por seu novo trabalho, uma preparação para melhor absorver o que havia sido proposto:

E reforçando ao público para que não espere um álbum de rap, fica ele livre para colocar pensamentos sobre vários aspectos e, vimos aqui o talvez mais importante, atual e necessário ao mundo, aos fãs, aos jovens: afeto. O que nasce, o que é compartilhado ou não, o que faz bem e o que para de fazer bem com o tempo. Em algumas das 12 faixas, separamos algumas impressões:

Igor's Theme

A primeira faixa já vem conforme as instruções de audição, induzindo uma jornada pela cidade como incremento da experiência – de condução, trajeto, de te levar para algum lugar, além de fortalecer a atenção na obra, com a mesma atenção como se estivéssemos dirigindo. Inclusive, encontrados aí vocais de Lil Uzi Vert e (o não creditado) de Kali Uchis.

Earfquake

Com participações de Playboi Carti e o tio de toda a Los Angeles, Charlie Wilson da enorme The Gap Band. Aqui Em Earfquake temos mais uma evidência que falar de afeto e amor próprio é importantíssimo, quando temos na letra exemplos de exaltação do amor e os riscos do exagero, que podem levar à dependência emocional (principalmente no verso Don't leave me, it's my fault)

I Think

Com vocais de Solange, a música traz um questionamento das relações quanto ao envolvimento sério das partes. Essa faixa tem participação do cantor nigeriano Bibi Mascel, que além compor a música com Tyler cedeu o sample de Special Lady, música lançada pelo mesmo em 1982

Running out of Time

O que mais nos trava hoje é o medo, concorda? Um lado acaba (infezlimente) se desgastando muito para equilibrar um status de bem-estar numa relação em que o medo se faz presente. Essa faixa conta com riquisíssimas citações a grandes contribuições da história afro americana, como o clássico Wade in the Water, utilizado por Harriet Tubman durante a libertação dos negros escravizados e a letra da maravilhosa I Want You, interpretada por Marvin Gaye.

A Boy is a Gun

Talvez uma das faixas chave do álbum. Enquanto estamos falando sobre essas alusões a relacionamentos presentes no álbum, onde um garoto pode representar proteção, ainda tem a questão que essa mesma arma também pode nos trazer perigo. E ainda flertando com a idéia de perigo, erroneamente representado por garotos negros com a touca do moletom levantada, a segurança de se ter alguém do lado é etérea, no mesmo momento em que apostamos em uma determinada pessoa a solução e escudo para as nossas vulnerabilidades – vale nessa total atenção nesse ponto.

 

Are We Still Friends?

 

A pergunta que fizemos a algum antigo relacionamento, pelo menos uma vez na vida. A forma em que relações terminam e, precisa-se saber naquele momento se algo de fato valeu a pena. Como em relações nocivas normalmente nos defendemos e nos afastamos da outra parte de maneira quase nunca amigável. Acaba nos restando que, a melhor forma de tratar dessas questões é agir como se sente no momento, por que fórmula de sucesso para todas as questões muito provavelmente não exista. Ah, e sem deixar de citar as grandes participações de Pharrell Williams nos vocais e o solo de guitarra de Jack White, dos White Stripes – que vem aparecendo nos últimos anos em gravações com a galera da música preta.

O que pensamos é que, IGOR não tenha vindo para ser o melhor álbum de Tyler, nem o mais vendido; mas para o tempo em que vivemos, o mais necessário. IGOR pede desaceleração e análise de nossos passos, claro que falando de relações afetivas mas, talvez como um exercício para tudo o que fazemos hoje em dia. Não iremos a lugar nenhum sem nos entender. Ponto pro Tyler!

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Sobre os autores

Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.

Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.

Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.

Sobre o blog

Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.

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