Crips e Bloods - Entendendo o gangsta rap
Frequência Modulada
29/01/2019 18h12
E não se pode falar de Gangsta Rap, sem falar dos verdadeiros – os Bloods e os Crips, porque antes dos rappers quererem ser, eles já eram quando a imagem da TV ainda era em preto e branco…
O que vem normalmente vem à mente são músicas falando sobre "mulheres", "carrões" e "festas" mas a verdade é que isso não tem muito a ver. Mas em fundamento a temática é completamente outra, o grupo que fez o Gangsta Rap se tornar conhecido no mundo todo foi o N.W.A. formado pelo finado Eazy-E, por Dr. Dre, Ice Cube, Mc Ren e Dj Yella, falando sobre a brutalidade da policia, os problemas que afetam as comunidades, as tretas que acontecem nas quebradas e sobre o tráfico, que já era bem ativo na maioria das periferias, e como nos EUA os Bloods & Crips haviam se espalhados como uma epidemia e as letras se pareciam muito com o estilo de vidas dos membros de gangues, se deu-se aí o estilo e temática de rima.
E não se pode encarar as gangues como somente um bando de jovens violentos prontos pra matar ou morrer, porque no início da criação das gangues a intenção era "proteger a comunidade" da brutalidade da polícia, dos grupos racistas que viviam matando negros, de toda hipocrisia da cidade por assim dizer. Os ideais deles no começo eram os mesmos dos Black Panthers, mas com o tempo e com o crescimento das gangues esses ideais foram perdendo força… Então é mais ou menos isso, puxa uma cadeira e pra destrincharmos isso:
Crips
Há muitas versões sobre a origem do nome, a mais citada é como uma sigla para Community Revolution In Progress (Revolução Comunitária em Progresso). Em 1969, um jovem de Los Angeles chamado Raymond Washington de 15 anos, organizou um grupo de jovens da vizinhança e começou uma gangue chamada Baby Avenues. Os Baby Avenues queriam reunir jovens que já tinham envolvimentos em gangues desde 1964 e tinham feito alguns trabalhos para os Black Panthers. Essa gangue começou a se chamar Avenue Boys já que a sua área era na Central Avenue em East Los Angeles. Raymond Washington, junto com Stanley "Tookie" Williams, Anglo "Barefoot Pookie" White, Michael "Shaft" Concepcion, Melvin Hardy, Jimel "Godfather" Barnes, Bennie Simpson, Greg "Batman" Davis, Mack Thomas, Raymond "Danifu" Cook, Ecky, No 1 e Michael Christianson ficaram fascinados com a grande exposição dos Black Panthers e queriam transformar os Baby Avenues em uma força maior. Os Baby Avenues começaram a usar o nome Avenues Cribs já que alguns membros viviam na avenida (Central Avenue). Os membros dos Baby Cribs tinham que usar lenços azuis (bandanas) em volta do pescoço ou na cabeça. O azul se tornou a cor de sua bandeira.
Stanley "Tookie" Williams
Stanley "Tookie" Williams fundou sua própria gangue depois e os chamou de Westside Crips. Os Crips se tornaram conhecidos por Los Angeles, e mais jovens entravam para a gangue. Chegou um momento que os Crips superavam em números as outras gangues em 3 por 1. Em resposta, outras pequenas gangues se juntaram e formaram o que mais tarde seria os Bloods.
Os Crips não brigam somente com Bloods, mas com outras gangues Crips também, como os Rollin' 60s e os 83rd Street Gangster Crips que têm uma das maiores rivalidades de Los Angeles.
Em 1971, o uso da palavra "Crip" se tornou commum entre os membros da Avenues Cribs que se tornou um nome para a gangue. Nesse tempo, Raymond Washington e sua gangue influenciaram jovens de outras áreas resultando na formação de várias outras gangues de Crips. Algumas dessas outras gangues são Avalon Garden Crips, Eastside Crips, Inglewood Crips e Westside Crips. As gangues Crips eram violentas e estavam sempre querendo expandir seus territórios. Por causa de seus métodos violentos, outras gangues se juntaram para se proteger e formaram o que hoje é a gangue dos Bloods. Eles adoraram a cor vermelha como sua bandeira. Uma grande rivalidade se criou entre essas duas gangues através dos anos 70 e 80. Meados dos anos 80 a gangue dos Crips estava envolvida no tráfico de drogas que eles iniciaram e expandiram através dos EUA uma nova droga chamada "Crack". Durante meados de 1980 os Crips criaram várias conexões com outras gangues ao redor da América e países vizinhos.
Em meados de 1990, o tráfico de drogas com a Colombia estava a todo vapor. As gangues de ruas começaram a usar o tráfico como uma operação de negócios. A violência era o procedimento padrão para essas gangues, e a massa de novos integrantes era assustadoramente grande. Super gangues, como os Latin Kings, Crips, Bloods e Gangster Disciples espalharam suas influências por toda a América. As cidades grandes começaram a sofrer com a violência das gangues.
Para diminuir a violência entre Crips e Bloods, uma trégua foi assinada em Watts, a trégua foi baseada nos ideais criados pelo fundador dos Crips, Stanley "Tookie" Williams no seu "Tookie Protocol For Peace". Embora tenha diminuido, os crimes continuam acontecendo.
Crips, Hip-Hop e C-Walk
Muitos rappers, em particular rapper da West Coast, tem ligações fortes com os Crips em L.A. como Snoop Dogg, que é um membro do Rollin' 20 Crips em Long Beach (assim como Warren G, Nate Dogg, e Goldie Loc), enquanto WC é membro dos 111 Neighborhood Crips de South Central Los Angeles. Dizem que o finado membro do N.W.A. Eazy-E era membro dos Kelly Compton Crips. O membro da G-Unit Spider Loc é membro do 97th Street East Coast Crips. Há também rappers que dizem ter ligação com gangues, mas nunca provaram. Young Jeezy disse ser um Crip, mas sem nenhuma prova.
Dizem que o C-Walk serve para insultar a área de outras gangues rivais. Na música de WC "The Streets" do álbum Ghetto Heisman, ele e Snoop falam que o C-Walk é somente para os Crips, pois chegou uma época que o C-Walk era feito por alunos de escola, moleques que não eram membros de gangues, inclusive alguns cantores de R&B como B2K.
Os Crips não usam muito a letra B, trocando ela pela letra C quando começa a palavras, por exemplo, Believe = Celieve, e costuman colocar um K na frente do B para soar como Blook Killer (assassino de Blood), e eles se referem aos Bloods em desrespeito como "Slobs".
Além de Snoop Dogg, alguns dos rappers declaradamente membros dos Crips:
Snoop Dogg (Rollin' 20's Crips)
B.G. Knocc Out (Nutty Blocc Compton Crips)
C-Bo (Garden Blocc 19th Street Crips)
Coolio (Corner Pocket Crips)
Daz Dillinger (21st Street Crips)
Dresta (Nutty Blocc Compton Crips)
Eazy-E (Kelly Park Compton Crips)
Goldie Loc (Rollin' 20's Crips)
Ice Cube (NHC Rollin' 60's Crips)
Ice-T (Hoover Crips)
Jayo Felony (NHC 47 Blocc Crips)
Kurupt (Rollin' 60's Crips)
MC Eiht (Tragniew Park Compton Crips)
MC Ren (Kelly Park Compton Crips)
Nate Dogg (Rollin' 20's Crips)
South Central Cartel (Hoover Crips)
Schoolboy Q (L.A's Crips)
Spider Loc (97th Street East Coast Crips)
Tone Loc (South Side Compton Crips)
WC (111 Neighborhood Crips)
Warren G (Rollin' 20's Crips)
Kokane (Sin Town 357 Crips)
Lil Eazy-E (Kelly Park Compton Crips)
Tray Deee (Insane Crips)
Tweedy Bird Loc (Kelly Park Compton Crips)
CJ Mac (Rollin' 60's Crips)
40 Glocc (Colton City Crips)
Bloods
Os Bloods nasceram de uma reunião de vários membros dos Pirus com outras gangues em Los Angeles, e formaram uma aliança chamada Bloods. Já que os Crips usavam a cor azul os Bloods adotaram a cor vermelha como sua bandeira
Os Bloods são uma das maiores e mais violentas gangues de California. Eles tem uma intensa rivalidade com os Crips. Os membros são conhecidos pela cor vermelha. Vários grupos conhecidos como "sets" formam a organização, que é as vezes divido por inimizade ou pelo bairro.
Após vários meses de violência entre as gangues que resultou na morte de 40 pessoas, os Bloods assinaram uma trégua feita pelo fundador dos Crips, Stanley "Tookie" Williams.
Bloods & Hip-Hop
Alguns rappers da West Coast são membros dos Bloods. The Game é membro do Cedar Block Piru Bloods em Compton, o rapper/produtor DJ Quik, também de Compton, é membro do Tree Top Piru Bloods. Boo-Yaa T.R.I.B.E. são membros do Samoan Bloods em Carson City, e o rapper do Westside Connection Mack 10 é do Queen Street Bloods em Inglewood. Em 1995, o produtor de Los Angeles Ron "Ronnie Ron" Philips produziu o album de estréia do Damu Ridaz, um grupo de rap formado por membros de gangue da Denver Lane Bloods.
Há muitos rappers que afirmam serem Bloods para estabelecer credibilidade nas ruas, mas nunca provaram ter qualquer ligação. Os membros do grupo Dipset de Cam'ron dizem ser Bloods, e são frequentemente zoados por outras gangues e alguns rappers. Lil' Wayne sempre se veste de Blood, carregando um lenço vermelho no seu bolso direito, nunca provou ser Blood. E outra confusão, dizem que Tupac Shakur foi membro dos Mob Piru Bloods quando ele era artista da Death Row, o que não é verdade, Tupac não era de Compton.
Essa confusão se deve ao fato de Suge Knight usar membros dos Bloods como seguranças da Death Row, Tupac estava sempre com eles.
Os Bloods não gostam de usar a letra C em nomes, principalmente quando começa com a letra C, eles sempre adicionam a letra K na frente para soar como CK, Crip Killer (Assassino de Crip). Os Bloods se referem aos Crips em desrespeito como "Crabs".
Alguns rappers declaradamente membros dos Bloods
Suge Knight (Mob Piru Bloods)
Damu Ridaz (Denver Lane Bloods)
DJ Quik (Tree Top Piru Bloods)
Mack 10 (Queen Street Inglewood Bloods)
B-Real (Cypress Hill) (89th Street Family Swan Bloods)
The Game (Cedar Block Piru Bloods)
Sinister (89th Street Family Swan Bloods)
Hi-C (Tree Top Piru Bloods)
Mausberg (Campanella Park Piru Bloods)
All Frum Tha I (Inglewood Bloods)
Tha Relativez (Inglewood Family Bloods)
The Roaddawgs (Inglewood Family Bloods)
Tha Realest (Compton Piru Bloods)
Top Dogg (Compton Piru Bloods)
G.P. (Compton Piru Bloods)
Twinz (Pacioma Piru Bloods)
2nd II None (Elm Street Piru Bloods)
Boo-Yaa Tribe (West Side Piru Bloods (Carson Samoan Warriors)
Lil' Hawk (Crenshaw Mafia Gangsta Bloods)
Big Wye (Crenshaw Mafia Gangsta Bloods)
E dentro dessa infinidade de subdivisões entre as gangues de Los Angeles, conseguimos entender um pouco sobre vestimentas, letras, e cenários do gangsta rap feito em Los Angeles. Se você estiver passando por lá, obviamente será tranquilo mas, vale ficar atento às cores – só por precaução. Até semana que vem!
Sobre os autores
Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.
Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.
Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.
Sobre o blog
Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.