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Obrigado, Roy Hargrove

Frequência Modulada

06/11/2018 16h59

Que tal antes de falarmos, você clicar nessa playlist para entrarmos no mesmo astral?

Ok, vamos lá. Convidaremos você essa semana a uma celebração à criatividade. Roy Anthony Hargrove entregou uma parte valiosa de sua vida ao jazz. E mais que isso, uma entrega em um período delicado, bem no final dos anos 80. Uma onda popular tomou conta de praticamente todos os gêneros musicais, forçando-os a trabalhos mais aderentes ao rádio, com pouca densidade criativa até (calma, oitentistas). O jazz, mesmo sendo versátil, de fato pedia um desdobramento maior para agradar massas. Seguindo os passos dos professores Miles Davis e Herbie Hancock, a obra de Hargrove conversou com a música latina (especialmente a cubana) mas tem uma que gostaríamos de falar hoje: o rap.

Nos anos 90, envolver a expressão jovem mais significativa e originária das mesmas esquinas que o jazz foi um processo natural, na verdade. Ambos ritmos com essa característica de improviso serviram para canalizar o mar de sentimentos de seus criadores. Ambos ritmos serviram de opção de carreira e vida para tirar toda uma massa de jovens das linhas de perigo, criminalidade e repressão policial. Nesse mesmo quintal, o jovem Roy Hargrove estudou na aclamada escola de artes Booker T. Washington High School for the Visual e Performing Arts em Dallas e, na mesma turma uma jovem com vários talentos começou a já trocar com ele, chamada Erica Abi Wright, conhecida por nós como Erykah Badu, mas daqui a pouco voltamos aqui.

Uma primeira aproximação em 1994 com colaborações no super grupo Buckshot Lefonque, projeto do saxofonista Brandford Marsalis que exemplifica muito bem o jazz-rap, vertente tão respeitada que ajudou inclusive o processo de legitimidade e densidade musical no rap, tornando-o inclusive vendável para outros mercados além do "urban".

No final dos anos 90, Roy Hargrove mesmo seguindo carreira sólida no jazz, flertou e contribuiu muito musical e conceitualmente para um dos saltos mais lindos que a música negra já deu: o movimento Soulquarians. Tanto que, Hargrove está na ficha de 3 álbuns importantíssimos dentro do movimento: Voodoo de D' Angelo, Mama's Gun de Erykah Badu e Like Water For Chocolate, do rapper Common. Ao lado de gênios como o James Poyser e Questlove (The Roots), do baixista Pino Palladino (Jonh Mayer Trio) e do próprio semideus J Dilla, arquitetaram todo uma linguagem para o rap e o R&B de dentro do emblemático Electric Lady Studio, em Nova York. Além de todos esses lindos trabalhos, a convivência diária deles contribuiu para que os ritmos se tornassem uma coisa só, que soasse mais orgânico, que servisse de referência anos mais tarde para que por exemplo, Kendrick Lamar fizesse de To Pimp A Butterfly um álbum de estreia impecável.

Quem já conhece bons nomes do jazz atual, como Terrance Martin ou Robert Glasper, vai entender também onde eles se firmaram. Roy Hargrove teve papel fundamental para que o jazz jamais deixasse de ser uma representação de riqueza artística das comunidades afro-americanas, ser justamente uma ótima opção para que esses jovens evitassem problemas e estivessem dentro dos conservatórios criando e mudando suas perspectivas. Um caminho difícil, uma agenda lotada e de excessos por vezes letais, mas nos dias de hoje muito bem representado. Viva!

E pra quem quiser entender melhor o que foi o movimento Soulquarians, falamos bem mais na edição 60 do nosso podcast, aqui

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Sobre os autores

Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.

Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.

Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.

Sobre o blog

Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.

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