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The Miseducation Of Lauryn Hill: (re)educação na indústria da música

Frequência Modulada

02/08/2018 12h38

Pra quem já nos acompanha desde 2014, sabe que temos uma tradição de homenagear discos que completaram 10, 20, até 30 anos desde o lançamento – depois quando puderem, acessem o nosso podcast Frequência Modulada pra dar um confere nas classes de 2007, 97 e 87 pra ficarem familiarizados. No ano de 2018, completa-se 20 anos de um dos discos mais importantes da cultura Hip Hop e também da black music: The Miseducation Of Lauryn Hill

Lauryn Noelle Hill, que já vinha de uma carreira sólida com o seu grupo The Fugees, formado por ela, Prakazrel "Pras" Michel e Wyclef Jean, também se destacou nas telinhas ao lado de Whoopi Goldberg no filme Mudança de Hábito 2 interpretando Rita Watson, uma aluna incrivelmente talentosa, porém um pouco rebelde devido aos problemas que enfrentava com sua mãe por não incentivar no seu sonho de ser cantora, mas até na ficção ela consegue driblar as adversidades provando pra si e para sua mãe que ela tem o dom da parada! Vai aqui um aperitivo do filme.

Depois do sucesso estrondoso da regravação de Killing Me Softly, da cantora Roberta Flack no segundo disco do The Fugees entitulado The Score em 1996, criou-se uma expectativa enorme de seus fãs por um disco solo da cantora. Eis que no dia 27 de Julho de 1998, Lauryn lança o primeiro single do disco: Doo-Wop (That Thing), que a deixou no Topo da Billboard por 4 semanas consecutivas, recorde que foi igualado 19 anos depois pela Cardi B com o single Bodak Yellow.

Doo Wop trás um discurso que abre diálogo sobre a consciência social na música e objetividade sexual, dando um "presta-atenção" nas minas que não se respeitam e se deixam ser rebaixadas pelo cara que se acha o tal, mas tem 4 filhos e ainda mora com a mãe. No vídeo vê-se uma New York dividida em 2 épocas diferentes, porém com a mesma essência musical, muito legal de se ver.

Se você escuta o disco inteiro sem pular as faixas, perceberá que tem alguns interlúdios entre uma faixa e outra onde essa questão é abordada, assim como o diálogo sobre fracassos amorosos que vem antes de outro maravilhoso hit, a Ex-Factor; Tornou-se seu maior hit solo no Reino Unido, e ela está presente mais do que nunca nas paradas de sucesso dos dias de hoje, através de Cardi B na música Be Careful, e também no hit Nice For What de Drake.

Em 1999 ela lança o video de Everything Is Everything, onde a cidade de New York torna-se um enorme vinil que o DJ(esus) risca por um mundo melhor, onde o amor entre os semelhantes sempre vencerá e que não podemos desistir em meio as adversidades, é a mensagem que essa música traz.

Destaque também para a faixa To Zion, em homenagem a seu filho, que estava em sua barriga na época da concepção do álbum. Lauryn rejeitou a ideia de que seria necessário escolher entre família ou carreira, trazendo referências àqueles que sugeriram inclusive que ela abortasse. Em To Zion ela conta com a participação do grande guitarrista Carlos Santana.

"Miseducation" recebeu onze indicações para o 41º Grammy Awards em 1999, feito até hoje nunca igualado por uma cantora, e levou cinco troféus, incluindo Álbum do Ano – o primeiro álbum de Hip Hop a receber tal prêmio.

Na primeira semana o disco vendeu mais de 420.000 cópias, ultrapassando o recorde da rainha do pop Madonna, que tinha vendido 371.000 cópias com o disco Ray Of Light; Hoje o Miseducation já passou 17 milhões de cópias vendidas!

Lauryn Hill não abriu as portas da indústria da música só para as mulheres mas também para todo o gênero do hip-hop, criando uma amplitude maior na audiência atingindo o mainstream de maneira até então considerada impossível, desconstruindo estereótipos do rap por algumas mulheres na época, mostrando que é possível sim ser ouvida sem apelar ao sexismo e elevando as mulheres ao status de grandeza – lugar do qual sempre será delas. Lauryn Hill fez um disco onde todos se identificam pois é humano, fala sobre o que pode acontecer com qualquer pessoa e fácil de ser entendido.

A genialidade musical do disco vem da integração do reggae, a força do hip hop, a instrumentação do R&B/Soul, um som cru onde as pessoas possam ouvir o arranhado de sua voz. Além do Carlos Santana citado lá em cima, Mary J. Blige e D'Angelo estão entre os artistas que participam desta obra prima. Hill tornou-se a voz de uma geração, sendo inspiração para muitos artistas como Alicia Keys, Beyoncé, Adele, John Legend (que foi quem tocou o piano na música Everything Is Everything) e muitos outros.

A influência de Lauryn Hill na música é inegável, Miseducation quebrou barreiras na indústria musical, mostrou que é possível fazer um disco com músicas que te faça se sentir bem antes de tudo, com temas que TEMOS que discutir até hoje e que as pessoas se interessem pelo seu produto pois se identificam com aquilo. Lauryn Hill achou o seu encontro das águas, e trouxe o hip hop para o mainstream com uma força que emana até os dias de hoje, uma artista à frente de sua geração e que merece toda a glória que existir pois foi a deseducação dela que (re)educou a indústria da música. Boa audição!

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Sobre os autores

Fabio Lafa escreve textos, podcaster, pesquisador musical e consultor em music branding.

Nyack é Dj, pesquisador musical e beatmaker.

Juliano BigBoss é estudioso do marcado do rap, pesquisador, produtor artístico e executivo.

Sobre o blog

Papo semanal e bem descontraído sobre os ritmos que movem cidades. Dicas e mapeamento de cenários musicais - clássicos e emergentes, do analógico ao eletrônico.

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